sábado, 23 de abril de 2011

Derrota. Morre a menina.

Lembranças de uma realidade desfeita
Fragmentos rotos, complexos pairando no ar.
Os empoeirados livros na estante
Demonstram que o tempo passou.
O hino cantado por seus desejos
Nunca mais será ouvido pelos corações.
Seu reflexo não estava no espelho.
O seu sonho não é mais soberano,
Nem a guia à novos caminhos
Apenas a dor do quotidiano é real.
Com a cabeça sobre um travesseiro
Uma jovem nota o quão silencioso é o seu quarto.
Se ao menos ela soubesse brincar com os sons produzidos
Por seu coração, se ao menos ela conseguisse dar vida a os sonhos
Que tem durante seu sono. Nada seria tão preto e branco
E seu nome seria algo importante, seria para ela algo mais que
Um código seria seu "eu" transformado e sonoro
Algo estranho e complexo como sentir-se completo
Algo louco e absurdo como ser perfeita em si mesma.
Os pés descalços são as vozes da liberdade
E as lágrimas das crianças sem pais
São menos que meus lamentos
Os murmúrios vêm dos ventos
E a solidão vem do coração
Eis que surge a noite para a menina,
Que no cansaço da vida quer ser tão viva e, por isso,
esquece-se de viver. Usa as estrelas para fingir-se de morta.
Espera calmamente os sons pararem na rua e lhe trazerem
O seu mundinho, seu palácio e suas nuvens de algodão.
Seu dia foi cansativo, não foi à escola, não brincou com as crianças.
Nem esperou o menino ao qual está enamorada.




Acordou, olhou pela janela, abriu-a,
Sorriu para os pássaros que estavam em seu telhado.
Tossiu, sentiu dor na garganta, pois a mão na testa: febre.
Deitou-se mais uma vez, estava triste não brincaria hoje novamente.
De olhos fechados sentia frio, seu coração batia forte.
Pensou em deus, viu o diabo, não acreditava em nada. Morreu!
Insistentemente lutou. Não queria morrer, pensou em sua mãe,
Chamou-a, sua voz não saia, sua garganta doía.
Um medo abateu-lhe, pensou nos seus primos e irmãos
Pensou muito, não pensava mais nada, não sentia mais nada,
Tudo era escuro, tudo era frio, de repente, uma inquietação,
uma vontade de chorar, de gritar, urrar como um animal.
Mas havia morrido, ainda lutava, mas nada... Estava morta.
Horas depois a porta do quarto fora aberta
E um sorriso esboçava-se na face de uma mãe contente
Ah... Que prazer sente os pais em ver seus filhos dormirem em paz
Que prazer sente os seres humanos em saberem que tudo
Age como deveria agir e que sua cria esta segura
Livre da maldade da vida, da maldade dos homens,
E que ali deitadinha, coitada, não sofrera nenhum mal

2 comentários: